Como disse antes, Severino mora mal, mas só não é pior porque Regina se vira. Ele não cuida muito das coisas, nem das pessoas, pois Severino afoga suas dores na bebida e esquece delas na tristeza de seu próprio esquecimento.
Severino chegou em casa. Brincou com os meninos, sua brincadeira costumeira: agarrou eles pela cintura, os corpos frágeis rodopiando no ar. E disse: vocês vão voar um dia, não vão ser um bosta de mosca que nem o pai de vocês, e ria de seu "bosta" falado com fala arrastada e assoviada. Efeito da cachaça.
Naquela noite em especial remexeu no prato de comida que Regina serviu, comeu somente o pedaço de bife e as cebolas, deixou o resto para o cachorro e agarrou Regina pela cintura. Cheirou seu pescoço e sentiu o cheiro do sabonete. Tá cheirosa mulher, ela se assanhou toda, mas ele a largou e saiu rodopiando ladeira abaixo em direção ao boteco.
Começou a beber na hora em que começou a chover. E enquanto chovia, Severino bebia. Ria alto das pessoas que passavam apressadas e molhadas tentando fugir do temporal. Falava aos amigos: olha mais um pinto no lixo, e ria.
Quase duas horas depois todos no boteco, que ficava na rua principal, fora da comunidade ouviram o grito desesperado de uma mulher. Severino se aprumou e riu dizendo: mais uma que tomou uns tapas nessa noite de chuva. Riu e bebeu. Severino bebe.
Mas o gritou tornou-se um urro desesperado, uma sinfonia de desespero e isto fez Severino ficar alerta como um animal de caça. Finalmente a mulher chegou à porta do boteco e gritou mais uma vez: caiu, caiu um monte de terra e pedra nas casas da rua três. Os pelos no pescoço de Severino arrepiaram. Era sua rua.
O efeito do álcool pareceu sumir imediatamente enquanto ele gritava mais alto ainda com a mulher. Ela não sabia o que explicar, só gritava e chorava, e Severino, que bebe, bebe muito, correu. Severino correu. Correu morro acima, correu contra a tempestade, correu em direção aos gritos lamentosos que invadiam a noite daquele lugar. Severino só queria Regina e seu corpo quente junto do seu.
As lágrimas do medo misturaram-se aos pingos dolorosos da chuva fria. Severino correu, correu e chegou.
(Continuo logo. Finalizando e falando do poder da graça poderosa de Deus. Acompanhe a trajetória de Severino nos posts anteriores).
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